LOBO ANTUNES
... perora e fuma na Sic Notícias enquanto escrevo isto.
Li, com o maior interesse, a entrevista dada ao DN de hoje (que já é ontem). Em muitos aspectos senti-me próximo do seu pensamento. Sobretudo no que toca à produção literária. À necessidade da reescrita constante. Ao olhar distanciado sobre os livros que ficaram para trás. "Já não somos os mesmos que escrevemos aquele romance", afirma. E tem razão.
Reproduzo o que me interessou no seu discurso. O resto podem ler directamente no site do jornal.
"Como lida com os diferentes tempos de um romance?
O tempo é muito curioso. À medida que se envelhece o tempo é mais rápido. Ainda agora foi Natal e já vai ser Natal outra vez. Quando se é novo pensa-se que o tempo vai resolver os problemas e depois a partir dos 40 percebe-se que o tempo é que é o problema. Sou muito consciente de que tenho pouco tempo, de que posso fazer mais dois ou três livros, e depois acabou(...)
As literaturas africanas são visíveis em Portugal?
E a literatura portuguesa é visível? O nível médio daquilo que se publica, seja onde for, é muito baixo. Esta é a verdade em todo o mundo. As pessoas compram aquelas coisas que falam sobre o hoje e quando o hoje se tornar ontem já ninguém vai ler aquilo.
Um livro pode ajudar a repensar o mundo?
Tenho uma certa desconfiança em relação à palavra pensar. Quando se está a escrever, pode-se pensar enquanto indivíduo, mas enquanto escritor... Sempre me fez confusão as pessoas que dizem: tenho um livro na cabeça só me falta escrever.
Isso não lhe acontece quanto parte para as suas folhas?
Parto sem nada.(...)
Qual a missão da crítica?
Idealmente, a missão da crítica seria ajudar a ler. Em teoria, o crítico será um leitor mais atento do que os outros. Não tem necessariamente que emitir juízos de valor. Temos tendência a gostar só dos que são da nossa família, as ideias confundem-se com as nossas paixões. Em Portugal não sei como se passa a crítica.
(...)
Uma relação com uma editora normalmente tem altos e baixos. Digamos que neste momento não estou num alto. Esta é uma época muito complicada porque as editoras atiram cá para fora o máximo de livros que puderem, é uma época em que se vende. Só que há desatenções que já não tolero ou tenho dificuldade em engolir. Não quero que me respeitem a mim, quero que respeitem a honestidade do meu trabalho. E ao mesmo tempo sou extremamente fiel, cria-se uma relação de amizade que para mim é muito importante.
(...)
Acaba de ganhar outro relevante prémio, o da União Latina. O júri fundamenta: «Lobo Antunes é a voz mais expressiva da realidade profunda de Portugal.» Que sente?
Não me interessa ser a voz mais expressiva de Portugal. É preciso dessacralizar os prémios. É evidente que são agradáveis. Os prémios, porém, não têm nada a ver com literatura no sentido em que não tornam os livros nem melhores nem piores.
(...)
É um homem sem política e sem religião?
Sou um homem religioso. Cada vez mais. Os grandes físicos do século XX eram homens profundamente crentes; chegaram a Deus através da física, da matemática.
(...)
Estamos numa época em que começa a apetecer revisitar os grandes clássicos?
O que é um clássico? Calvino dizia que clássico é aquele que a gente nunca diz que está a ler, dizemos que estamos a reler.
(...)
E ensinar as pessoas a não terem pressa e que é necessário trabalhar e retrabalhar às vezes é difícil porque há uma sede de reconhecimento. O sucesso é medido pelo número de exemplares vendidos, nem se dão conta...
De que estão na fogueira do mercado?
Mas se pensam na fogueira do mercado, para quê escrever? É preciso sacrificar muitas vezes a tentação, que é humana, não só de frases bonitas mas também de situações que vão prejudicar a eficácia do livro. Muitas vezes tem de deitar-se fora coisas que eventualmente poderão ser boas mas não servem o livro, prejudicam-lhe o galope.
(...)
O escritor deve ser uma voz da consciência?
O seu único compromisso é fazer livros. A importância do escritor é muito relativa. Terá, quando muito, de ser um contrapoder..."
E pronto. Parecendo que não ainda foi uma longa série de frases ;-)
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